Talita corrêa
Meu irmão mais velho era o melhor jogador de futebol da escola. Natural que, há exatos 20 anos, eu quisesse ter alguma intimidade com a bola. Acontece que tenho asma desde que me entendo por aquariana. E essa relação boa com o esporte na infância não veio.
Ainda tentei fazer natação. Mas com alergia, rinite e sinusite no currículo médico, as aulas sempre acabavam com dor de cabeça e coceira na garganta. Mais tarde, insistente, tentei entrar para o time de vôlei, mas, estabanada, atropelei, de cara, a pilastra de ferro da quadra. Minidesmaio e trauma gigante.
Eu virei a psicóloga do time do segundo ano, aquela que não tinha autorização para correr e era dispensada da educação física. Eu não precisava, sequer, ter bermuda tactel, o que era, definitivamente, uma coisa boa na minha vida de “adolescente café com leite”.
Foi assim... Enquanto meu irmão fez faculdade na área para qual sempre teve habilidade e minha irmã mais nova espichou - e resolveu gostar de esporte e do Sport, pra minha infelicidade -, eu segui sendo a pata choca da atividade física. Aquela que ofegava até pra correr do ladrão.
Um dia, lá fui eu morar no Rio. Aquela cidade cheia de gente saudável nos calçadões. Aquela cidade com sol e cenários tão lindos que você tem pena de ficar em casa. E depois de sair de casa, tem pena de ficar parado. Comprei uma bicicleta e, por um tempo, passei a fazer o percurso casa-trabalho de bike. Depois me interessei também pelos patins, que viraram a melhor companhia do fim de semana. Muito mais tarde, fiz uns amigos surfistas e me danei em cima de uma prancha. Pronto. Eu era capaz de me mexer e produzir aquela dose maravilhosa de serotonina sem sentir falta de ar. Sem sentir falta de nada.
Foi nessa fase que eu percebi o quão o esporte é apaixonante e torna as cidades ainda mais apaixonantes. Uma relação de causa e consequência que se mistura e não dá pra explicar. Eu, que sempre fugi das chuteiras, me tornei, no Rio, alguém capaz de sentir prazer com o suor de uma corrida no Aterro. Foi libertador entender que a cidade podia ser minha quadra, e que as ruas da cidade podiam ser minhas pistas, sem ninguém pra me dizer que eu era doente, desajeitada e estava dispensada daquela partida de superação. De juiz, somente o redentor. De limite, somente a curva.
Mas o Rio passou e eu voltei pra Recife quando tinha que voltar. Descobri que, aqui, ainda estamos aprendendo a transformar a cidade em ginásio popular. Que essa ideia de cidade para ser vivida – e exercitada – ainda precisa correr muito em direção ao pódio. As ciclovias de domingo foram um passo, mas um passo curto perto do tanto de chão inclusivo que precisamos andar. Nossas praças e praias ainda precisam entrar nessa disputa e desbancar a falta de mobilidade, de estrutura e de segurança urbana que enfrentamos. É uma questão de construção de consciência. De luta e de exigência. E, pode demorar, mas, assim como aconteceu comigo, essa paixão arrebatadora pelo esporte não vai falhar.
Ainda tentei fazer natação. Mas com alergia, rinite e sinusite no currículo médico, as aulas sempre acabavam com dor de cabeça e coceira na garganta. Mais tarde, insistente, tentei entrar para o time de vôlei, mas, estabanada, atropelei, de cara, a pilastra de ferro da quadra. Minidesmaio e trauma gigante.
Eu virei a psicóloga do time do segundo ano, aquela que não tinha autorização para correr e era dispensada da educação física. Eu não precisava, sequer, ter bermuda tactel, o que era, definitivamente, uma coisa boa na minha vida de “adolescente café com leite”.
Foi assim... Enquanto meu irmão fez faculdade na área para qual sempre teve habilidade e minha irmã mais nova espichou - e resolveu gostar de esporte e do Sport, pra minha infelicidade -, eu segui sendo a pata choca da atividade física. Aquela que ofegava até pra correr do ladrão.
Um dia, lá fui eu morar no Rio. Aquela cidade cheia de gente saudável nos calçadões. Aquela cidade com sol e cenários tão lindos que você tem pena de ficar em casa. E depois de sair de casa, tem pena de ficar parado. Comprei uma bicicleta e, por um tempo, passei a fazer o percurso casa-trabalho de bike. Depois me interessei também pelos patins, que viraram a melhor companhia do fim de semana. Muito mais tarde, fiz uns amigos surfistas e me danei em cima de uma prancha. Pronto. Eu era capaz de me mexer e produzir aquela dose maravilhosa de serotonina sem sentir falta de ar. Sem sentir falta de nada.
Foi nessa fase que eu percebi o quão o esporte é apaixonante e torna as cidades ainda mais apaixonantes. Uma relação de causa e consequência que se mistura e não dá pra explicar. Eu, que sempre fugi das chuteiras, me tornei, no Rio, alguém capaz de sentir prazer com o suor de uma corrida no Aterro. Foi libertador entender que a cidade podia ser minha quadra, e que as ruas da cidade podiam ser minhas pistas, sem ninguém pra me dizer que eu era doente, desajeitada e estava dispensada daquela partida de superação. De juiz, somente o redentor. De limite, somente a curva.
Mas o Rio passou e eu voltei pra Recife quando tinha que voltar. Descobri que, aqui, ainda estamos aprendendo a transformar a cidade em ginásio popular. Que essa ideia de cidade para ser vivida – e exercitada – ainda precisa correr muito em direção ao pódio. As ciclovias de domingo foram um passo, mas um passo curto perto do tanto de chão inclusivo que precisamos andar. Nossas praças e praias ainda precisam entrar nessa disputa e desbancar a falta de mobilidade, de estrutura e de segurança urbana que enfrentamos. É uma questão de construção de consciência. De luta e de exigência. E, pode demorar, mas, assim como aconteceu comigo, essa paixão arrebatadora pelo esporte não vai falhar.